domingo, 25 de abril de 2010

ESPELHO
"Por acaso, surpreendo-me no espelho:
Quem é esse que me olha e é tão mais velho que eu? (...)
Parece meu velho pai - que já morreu! (...)
Nosso olhar duro interroga:
"O que fizeste de mim?" Eu pai? Tu é que me invadiste.
Lentamente, ruga a ruga... Que importa!
Eu sou ainda aquele mesmo menino teimoso de sempre
E os teus planos enfim lá se foram por terra,
Mas sei que vi, um dia - a longa, a inútil guerra!
Vi sorrir nesses cansados olhos um orgulho triste..."
Exausto

Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.
ALMAS PERFUMADAS



"Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta.
De sol quando acorda.
De flor quando ri.
Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda.
Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça.
Lambuzando o queixo de sorvete.
Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher.
O tempo é outro.
E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver.
Tem gente que tem cheiro de colo de Deus.
De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul.
Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis.
Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo.
Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga pra isso.
Ao lado delas, pode ser abril, mas parece manhã de Natal do tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel.
Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra.
Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza.
Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria.
Recebendo um buquê de carinhos.
Abraçando um filhote de urso panda.
Tocando com os olhos os olhos da paz.
Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave que sua presença sopra no nosso coração.
Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa.
Do brinquedo que a gente não largava.
Do acalanto que o silêncio canta.
De passeio no jardim.
Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume
que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa só pelo corpo.
Corre em outras veias.
Pulsa em outro lugar.
Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que rimos Deus está conosco, juntinho ao nosso lado.
E a gente ri grande que nem menino arteiro.
Tem gente como você que nem percebe como tem a alma Perfumada!
E que esse perfume é dom de Deus."
A BUNDA QUE ENGRAÇADA
(1930 - O AMOR NATURAL)


A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.

Não lhe importa o que vai
pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora – murmura a bunda – esses garotos
ainda lhes falta muito que estudar.

A bunda são duas luas gêmeas
em rotundo meneio. Anda por si
na cadência mimosa, no milagre
de ser duas em uma, plenamente.

A bunda se diverte
por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.

Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.

A bunda é a bunda,
redunda.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

segunda-feira, 5 de abril de 2010

domingo, 4 de abril de 2010


FELIZ PÁSCOA!!!!!!!!!!!!!!!!


"PÁSCOA É DIZER 'SIM' AO AMOR E À VIDA; É INVESTIR NA FRATERNIDADE, É LUTAR POR UM MUNDO MELHOR, É VIVENCIAR A SOLIDARIEDADE. FELIZ PÁSCOA A TODOS!!!!"

sexta-feira, 2 de abril de 2010

A gaveta.

Em alguma região do cérebro humano, numa gaveta meio emperrada, deve estar guardado tudo aquilo que pensamos que não lembramos mais, ou, explicando melhor, as lembranças que demos por esquecidas.
Vez por outra elas escapam lá de dentro, trazendo consigo alguma sensação inesperada, um cheiro, uma música, uma imagem lavada pelo tempo, ou, no mínimo, a triste constatação da velhice que chega.
Enquanto as memórias úteis (nome, endereço, telefone, RG, CPF, “preciso levar a chave”, três vezes quatro: doze, “sexta tenho dentista”, dáblio, dáblio, dáblio ponto alguma coisa, etc.) passeiam com livre trânsito pelas dobrinhas do encéfalo, estas outras permanecem engavetadas, penso eu, por um motivo óbvio. Se todas as informações de uma vida inteira pudessem circular livremente pelo nosso consciente, com certeza enlouqueceríamos.
Talvez algumas dessas lembranças ocultas, por vaidade ou claustrofobia, tentem escapar da gaveta a todo custo.
Outras, quem sabe, preferem a reclusão e detestam quando são desencavadas por algum motivo.
Pode ser que, escondidas ali no seu universo, elas interajam em estranhas relações do tipo – um velho professor de geografia brincando com um coelhinho de pelúcia.
Ou pode ser ainda que estejam em estado de hibernação, alheias ao fato de que podem ser invocadas a qualquer momento.
Seja lá qual for o regime que impera nesse mundo desconhecido, é possível que uma antiga vizinha de aparelho nos dentes se surpreenda ao se deparar repentinamente fora da gaveta, arrancada por uma conversa banal: “sabe quem eu encontrei no banco? A Vaninha do 102. Casou, separou e tem três filhos.”
Com o advento dos programas de relacionamento da Internet, muita gente tem sido desengavetada com uma simples mensagem de texto: “lembra de mim? Eu sentava ao seu lado na sétima série.” Essas mensagens às vezes vêm acompanhadas de uma foto de alguém vagamente parecido com aquele seu colega de classe, que se transforma no próprio tirando-se alguns anos e alguns quilos.
Mesmo quando não são atraídos por um estímulo exterior ao nosso pensamento, acontece com freqüência de pessoas, objetos e fatos, supostamente esquecidos, surgirem de repente: “ah, como eu gostava daquele leãozinho dourado da medalha do vovô!” É comum que isso seja gerado por uma associação de idéias. Sinal verde – verde – ecologia – mico leão dourado.
Como também ocorre do esquecimento aparecer assim, do nada, “meu lápis de bandeirinhas mordido na ponta!”, tenho minhas suspeitas de que a gaveta pode estar semi-aberta, ou até mesmo furada.
A questão de maior relevância desta tese, para mim, consiste na seguinte dúvida: será que as coisas esquecidas vivem tramando suas fugas, ou as coitadas escapolem apenas por causa de nossa atividade cerebral e, fora da gaveta, se sentem desprotegidas?
A segunda questão mais importante é: quem é mais poderosa, a ciência ou a fantasia?
A fantasia.
Por isso sempre temo pelo destino das lembranças que cismam em percorrer minha mente, não sei o que fazer com elas, e torço para que se acomodem onde se sentirem mais felizes.
Não.
Não me venham com palavras difíceis como hipotálamo, córtex central, núcleo talâmico, ou lobo parietal.
Eu aposto que está tudo lá dentro da gaveta.

Para Poucos


"Onde eu pudesse experimentar por mim mesmo as minhas asas para descobrir, enfim, se elas são realmente fortes como imagino. E se não forem, mesmo que quebrassem no primeiro vôo, mesmo que após um certo tempo eu voltasse derrotado, ferido, humilhado - mesmo assim restaria o consolo de ter descoberto que valho o que sou."
Pessoas são presentes.

Vamos falar de gente, de pessoas. Existe, acaso, algo mais espetacular do que gente?Pessoas são um presente. Algumas têm um embrulho bonito, como os presentes de Natal, Páscoa ou festa de aniversário. Outras vem em embalagens comuns. E há as que ficam machucadas no correio... De vez em quando, chega uma registrada.
São os presentes valiosos. Algumas pessoas trazem invólucros fáceis de desenbrulhar; de outras, é dificílimo, quase impossível, tirar a embalagem. É fita durex que não acaba mais. Mas... A embalagem não é o presente. E tantas pessoas se enganam confundindo a embalagem com o presente!
Por que será que alguns presentes são complicados para se abrir? Talvez porque, dentro da bonita embalagem, haja muito pouco conteúdo, e com tanto vazio, com tanta solidão, a decepção seria grande.
Também você, amigo, e também eu, somos um presente para os outros. Você para mim, eu para você. Triste seria se fôssemos apenas presentes-embalagem: muito bem empacotados e... Quase nada lá dentro!
Quando existe o verdadeiro encontro com alguém, no diálogo, na abertura, na fraternidade, deixamos de ser meras embalagens e passamos à categoria de reais presentes.
Nos verdadeiros encontros humanos, acontecem coisas muito comoventes e essenciais. Mutuamente, vamo-nos desembrulhando, desempacotando, revelando... Você já experimentou essa imensa alegria da vida? A profunda alegria que nasce da alma, quando duas pessoas se comunicam, virando um presente uma para outra?
O conteúdo interno é o segredo para quem deseja tornar-se presente aos irmãos de cada estrada, e não apenas a embalagem. Um presente assim, que não necessita de embalagem, é a verdadeira alegria que a gente sente e não consegue descrever - só nasce no verdadeiro encontro com alguém. A gente abre, sente e agradece a Deus.