terça-feira, 29 de setembro de 2009

segunda-feira, 21 de setembro de 2009


Os girassóis e nós.


Eles são submissos. Mas não há sofrimento nesta submissão. A sabedoria vegetal os conduz a uma forma de seguimento surpreendente. Fidelidade incondicional que os determina no mundo, mas sem escravizá-los.

A lógica é simples. Não há conflito naquele que está no lugar certo, fazendo o que deveria. É regra da vida que não passa pela força do argumento, nem tampouco no aprendizado dos livros. É força natural que conduz o caule, ordenando e determinando que a rosa realize o giro, toda vez que mudar a direção do Regente.


Estão mergulhados numa forma de saber milenar, regra que a criação fez questão de deixar na memória da espécie. Eles não podem sobreviver sem a força que os ilumina. Por isso, estão entregues aos intermitentes e místicos movimentos de procura. Eles giram e querem o sol. Eles são girassóis.

Deles me aproximo. Penso no meu destino de ser humano. Penso no quanto eu também sou necessitado de voltar-me para uma força regente, absoluta, determinante. Preciso de Deus. Se para Ele não me volto corro o risco de me desprender de minha possibilidade de ser feliz. É Nele que meu sentido está todo contido. Ele resguarda o infinito de tudo o que ainda posso ser. Descubro maravilhado. Mas no finito que me envolve posso descobrir o desafio de antecipar no tempo, o que Nele já está realizado.

Então intuo. Deus me dá aos poucos, em partes, dia a dia, em fragmentos.

Eu Dele me recebo, assim como o girassol se recebe do sol, porque não pode sobreviver sem sua luz. A flor condensa, ainda que de forma limitada, porque é criatura, o todo de sua natureza que o sol potencializa.

O mesmo é comigo. O mesmo é com você. Deus é nosso sol, e nós não poderíamos chegar a ser quem somos, em essência, se Nele não colocarmos a direção dos nossos olhos.

Cada vez que o nosso olhar se desvia de sua regência, incorremos no risco de fazer ser o nosso sol, o que na verdade não passa de luz artificial.

Substituição desastrosa que chamamos de idolatria. Uma força humana colocada no lugar de Deus.

A vida é o lugar da Revelação divina. É na força da história que descobrimos os rastros do Sagrado. Não há nenhum problema em descobrir nas realidades humanas algumas escadarias que possam nos ajudar a chegar ao céu. Mas não podemos pensar que a escadaria é o lugar definitivo de nossa busca. Parar os nossos olhos no humano que nos fala sobre Deus é o mesmo que distribuir fragmentos de pólvora pelos cômodos de nossa morada. Um risco que não podemos correr.

Tudo o que é humano é frágil, temporário, limitado. Não é ele que pode nos salvar. Ele é apenas um condutor. É depois dele que podemos encontrar o que verdadeiramente importa. Ele, o fundamento de tudo o que nos faz ser o que somos. Ele, o Criador de toda realidade. Deus trino, onipotente, fonte de toda luz.

Sejamos como os girassóis...

Uma coisa é certa. Nós estamos todos num mesmo campo. Há em cada um de nós uma essência que nos orienta para o verdadeiro lugar que precisamos chegar, mas nem sempre realizamos o movimento da procura pela luz.

Sejamos afeitos a este movimento místico, natural. Não prenda os seus olhos no oposto de sua felicidade. Não queira o engano dos artifícios que insistem em distrair a nossa percepção. Não podemos substituir o essencial pelo acidental. É a nossa realização que está em jogo.

Girassol só pode ser feliz se para o Sol estiver orientado. É por isso que eles não perdem tempo com as sombras.

Eles já sabem, mas nós precisamos aprender.

...Meu namorado é um sujeito ocupado...Eu ando meio com medo que um dia ainda ache a tristeza normal...Até os amores são tão mal cuidados que acabam virando uma coisa banal.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

UM MAIS UM


Sempre me achei diferente de todos. Não, eu não me sentia mais especial que o resto da humanidade. Me sinto diferente porque sempre senti diferente. Falo de intensidade e sensibilidade. Sofri um muito, aprendi em dobro. Descobri que a gente nunca deve insistir em quem só aprendeu a subtrair.

A soma sempre me atraiu. E vamos combinar: é bem mais fácil somar que diminuir. Para diminuir eu conto nos dedos. Para somar também, é verdade. Mas na hora de somar nada falta. Posso pegar os meus 20 dedos, objetos, dedos imaginários e até mesmo o do vizinho. Para subtrair, nananinanana. Tenho que me virar nos 30, ou melhor, nos 20. E se ficar faltando, o problema é todo meu. Por isso prefiro somar. Já viu que todas as coisas boas chegam em pares?

Meias, por exemplo. São duas. Pijamas precisam da parte de cima e de baixo. Tênis. Scarpins. Sandálias. Botas. Cremes. São sempre muitos, soma infinita. Shampoos. Maquiagens. Plural. Mais de um. Soma. Mais. Cartões. Canetas. Bloquinhos. Caderninhos. Bolsas. Calcinhas. Blusas. Calças. Saias. Amigos. Pais. Bichos. Almofadas. Tudo é somado.

Alguém disse que uma pessoa precisa de outra para ser feliz. Um dia acreditei cegamente nisso. Precisa. Hoje, distante da solidão dolorida e insucessos amorosos constantes, que somavam e se multiplicavam, eu digo que não acredito mais. Uma pessoa não precisa de outra para ser feliz. Porque uma pessoa precisa, isso sim, descobrir a felicidade sozinha. (Saber tudo o que gosta e o que pode ser descartado. Isso a gente só aprende sozinho. E isso ninguém pode nos tirar.) Precisa curtir momentos a sós, com os amigos, com outras bocas, com diferentes rostos. Todo mundo precisa disso. Precisa conhecer e sentir toda a liberdade que a solteirice dá. Mesmo que a solteirice pareça monótona, chata e mesmo que, no fundo, a gente sempre busque um grande amor. Acho que o amor não tem muita explicação, a não ser a seguinte: a gente precisa estar preparado para a chegada dele. Porque é difícil, é muito difícil amar. E dói. Não pense que ao encontrar o amor da sua vida os dias se transformarão em delícias sem fim. Dói. O amor de verdade dói. Ele arranha. Você fica com medo que um dia o sentimento te abandone. Isso causa dor. Dói. Eu insisto: dói. Não é um mar de rosas, depois que passa a fase inicial e você conhece os defeitos de trás para a frente, dói. É uma dor doce. Mas você não precisa da outra pessoa. Você gosta de como ela te abraça, te entende, te ouve, te beija, te olha. Você acha bonita a forma como ela mexe a colher dentro da panela, amarra o sapato, segura o guarda-chuva, tosse, liga a televisão. Só aquele tom de voz te tranquiliza, só aquele abraço te salva do caos de uma semana infernal. Você tem consciência que existem outras coxas, peitos, braços, pernas, olhares e cérebros no mundo. Você sabe que existem outras pessoas bonitas, atraentes e cheirosas no planeta. Mas só aquela te deixa com tesão. Tesão por tudo. Pela vida. Pela crença no amor de verdade. Pela vontade de juntar as escovas de dentes e as meias na gaveta. Pela magia que o amor traz. Pela rotina que o amor traz. Pela chatice que o amor traz. Porque o amor também é chato, um legítimo velho resmungão. O amor também é cheio de tédio. Mas se você sente que só aquela pessoa vale e merece essa dor que acompanha o amor, então é porque você ama com tudo o que você pode. E, aí sim, é que você está completamente livre. Livre para ser quem quiser. Para fazer o que tiver vontade. Para exercitar a sua solidão. A dois. Somando. Fazendo crescer.

Gosto de pessoas e amores inteiros. Porque não sei me dar pela metade nem por partes. Eu transbordo. E se você também for do time que transborda, vem pra cá.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Vem "nimim"!




EU NÃO PARO

Quando eu vou parar e olhar pra mim?
Ficar de fora
E olhar por dentro
Se eu não consigo
Organizar minhas idéias
Se eu não posso
Se eu esqueço de mim?

Eu pensei que fosse forte
Mas eu não sou

Quando eu vou parar pra ser feliz?
Que hora?
Se não dá tempo
Se eu não me encontro
Nos lugares onde eu ando
Nem me conheço
Viro o avesso de mim
Se eu não sei o que é sonhar
Faz tanto tempo
Tanto mar
E o meu lugar
É aqui!
Uma rua atravessada em meu caminho
Nos meus olhos
Mil faróis
Preciso aprender a andar sozinho
Pra ouvir minha própria voz
Quem sabe assim
Eu paro pra pensar em mim?
Quem sabe assim
Eu paro pra pensar em mim?

sábado, 12 de setembro de 2009




A mocinha.

Ela está pronta para sair, linda como nunca, a noite é dela.
Sua vida é inspirada na mocinha do seriado que ela mais gosta.
Seu figurino, também.
O cabelo, puxado com um laço, cai desmanchado sobre os ombros. Sombra, delineador, lápis, rímel, batom. Vestido bonito, sapato alto, bolsa retrô. Estamos em 2009, mas ela podia estar em qualquer tempo, em qualquer lugar, inclusive na tela.
Ela é diferente das antigas mocinhas de romances, filmes e novelas: é mais esperta, mais descolada, mais engraçada, mais liberta, mais maluca.
É sentimental, temperamental, ingênua e romântica: ela é igualzinha às antigas mocinhas de romances, filmes e novelas.
O enredo da sua existência é composto por um conflito pessoal, problemas em casa, na escola ou no trabalho, uma vilã ou um vilão no seu caminho, e o desejo de encontrar um par.
A mocinha tem algo de Julieta. Tem algo de Cinderela. Tem algo de Dama das Camélias. Tem algo de Madame Bovany. Tem algo de Megera Domada. Tem algo de Vivien Leigh. Tem algo de Marilyn Monroe. Tem algo de Simone de Beauvoir. Tem algo de Leila Diniz. Tem algo de Amélie Poulain. Tem algo de Jennifer Aniston. Tem algo de mulherzinha. Tem algo de mulherão.
Ela é minha filha, ou sua filha, minha sobrinha, sua irmã, sua vizinha.
No episódio de hoje, a mocinha quer viver uma aventura. Ou quer viver um amor eterno. Quer ficar apaixonada. Ou quer dar uma virada. Ou quer romper com o passado. Ou quer inventar um futuro. Ou quer resolver sua vida. Ou tudo isso ao mesmo tempo. Quer ter um final feliz, é claro.
Uma cerveja na calçada? Uma tequila no lounge? Uma boate GLS? Uma balada fashion? Um lugar alternativo? Rock? Pop? MPB? Country? Dance? Música eletrônica? Tanto faz.
A mocinha dá uma última olhada no espelho, conserta a postura e sai de casa. Seu coração é toda a esperança que existe. Ainda no elevador, tem um pressentimento: é hoje. Na rua, a Lua Cheia confirma: é hoje mesmo.
Começa a gincana. As amigas, os rapazes, aquela música, uma leve doideira, o carinha de azul, vai chegar nela, quase chega, não chegou. Uma dose. Começa de novo. vai ao banheiro, retoca a maquiagem, ouve um segredo, parte para pista, olha o de amarelo, passou.
Ela pensa em disistir. Será que chama um táxi? Não. Hoje é sábado e todo mundo sabe que sábado é dia de sim. Ela persiste. Mais uma dose, a doideira está doida, a amiga está triste, o carinha de azul está com a moça de saia preta, deixa ele, lá vem outro, não veio, dançou.
Já são quase 5 da manhã.
Não apareceu príncipe, nem herói, sequer um conquistador.
Ela não ouviu galanteios, ela não deu nenhum beijo, ela não teve surpresa.
Voltou para casa, jogou o vestido no chão do quarto, dormiu maquiada, não trouxe lembrança importante.
A noite não foi dela.
Deve ter alguma coisa meio estranha com a noite.
Ao pé do ouvido.


Existe uma coisa dentro de mim que nunca dorme ou cala a boca. O sono bate, eu deito, penso que a noite vai ser boa. Ela, de fato, é. Mas antes de ser, algo sempre acontece. São eles, meus pensamentos. Sem trégua, férias, intervalo, hora do lanche. Eles me acompanham até na hora de escovar os dentes. Converso, jogo carta, passo a mão em cada cabeça.

Tenho a mania da mão na cabeça. Gosto de passar a mão nos cabelos dos meus queridos. Os meus queridos são as pessoas que me são queridas. Só isso. E para ser um querido meu nem precisa muito. Um sorriso e me ganhou. Mentira, antes eu era boba. Eu vivo repetindo pra mim tá-aprendendo-tá-aprendendo. Queria muito aprender, mas não dá. Basta a pessoa contar uma história triste que eu digo senta aqui. Desde pequena, não tem jeito. Me olhou com cara de cachorro sarnento e eu fico com dó.

Juro que preciso aprender muito da vida ainda. É que antes era tão bom. Essa coisa de vamos ser adulta é muito chata. Não confia em todo mundo, nem todo mundo é teu amigo. Tá legal, tá legal, já ouvi. E já quebrei a cara também, você sabe, e eu ainda guardo cada marquinha. Só que elas são externas, não sei ter marca lá dentro. Cicatrizes existem, quem não têm? Mas o rancor não mora aqui, eu garanto. Passou e pronto. E se ainda tá amassado, a gente sacode, disfarça e tudo fica bem.

Não aprendi a ter raiva. Me faço de durona, entende? Falo palavrão, digo que ah, essa desgraçada vai ver, vai ter, vai, vai. Mas assim como você não é Escola de Samba de São Paulo, eu não sou a vilã da jogada. Se precisar de uma mão na cabeça, senta aqui.

De encher os olhos.


segunda-feira, 7 de setembro de 2009

"Uma homenagem a todos os filhos de boiadeiro, que como meu pai hoje são doutor."

História de um Prego

Declamação:
Meu filho vem cá, corre, vem sentar aqui comigo, sou teu pai, sou teu amigo, quero te aconselhar. Vê na parede aquele prego ali pregado, ele sabe meu passado mas eu quero te contar:

Naquele prego eu já pendurei meu laço
E o arreio do picaço cavalo de estimação
E um par de espora que custou muito dinheiro
E um chapéu de boiadeiro que eu lidava no sertão
Naquele prego pendurei muito cansaço
Muito suor do mormaço e poeira do estradão
E quantas vezes minhas mágoas pendurei
Sentimentos que eu guardei prá não magoar seu coração.

De agora em diante vou tirar dele meu laço
E o arreio do picaço e as esporas vou guardar
Naquele prego pendure uma sacola
Cheia de livro da escola e vontade de estudar
Quando amanhã você estiver aqui sentado
Lembrando nosso passado olhando o prego pioneiro
Quero que sejas um doutor bem afamado
E diga sempre em altos brados
Sou filho de um boiadeiro