sábado, 12 de setembro de 2009




A mocinha.

Ela está pronta para sair, linda como nunca, a noite é dela.
Sua vida é inspirada na mocinha do seriado que ela mais gosta.
Seu figurino, também.
O cabelo, puxado com um laço, cai desmanchado sobre os ombros. Sombra, delineador, lápis, rímel, batom. Vestido bonito, sapato alto, bolsa retrô. Estamos em 2009, mas ela podia estar em qualquer tempo, em qualquer lugar, inclusive na tela.
Ela é diferente das antigas mocinhas de romances, filmes e novelas: é mais esperta, mais descolada, mais engraçada, mais liberta, mais maluca.
É sentimental, temperamental, ingênua e romântica: ela é igualzinha às antigas mocinhas de romances, filmes e novelas.
O enredo da sua existência é composto por um conflito pessoal, problemas em casa, na escola ou no trabalho, uma vilã ou um vilão no seu caminho, e o desejo de encontrar um par.
A mocinha tem algo de Julieta. Tem algo de Cinderela. Tem algo de Dama das Camélias. Tem algo de Madame Bovany. Tem algo de Megera Domada. Tem algo de Vivien Leigh. Tem algo de Marilyn Monroe. Tem algo de Simone de Beauvoir. Tem algo de Leila Diniz. Tem algo de Amélie Poulain. Tem algo de Jennifer Aniston. Tem algo de mulherzinha. Tem algo de mulherão.
Ela é minha filha, ou sua filha, minha sobrinha, sua irmã, sua vizinha.
No episódio de hoje, a mocinha quer viver uma aventura. Ou quer viver um amor eterno. Quer ficar apaixonada. Ou quer dar uma virada. Ou quer romper com o passado. Ou quer inventar um futuro. Ou quer resolver sua vida. Ou tudo isso ao mesmo tempo. Quer ter um final feliz, é claro.
Uma cerveja na calçada? Uma tequila no lounge? Uma boate GLS? Uma balada fashion? Um lugar alternativo? Rock? Pop? MPB? Country? Dance? Música eletrônica? Tanto faz.
A mocinha dá uma última olhada no espelho, conserta a postura e sai de casa. Seu coração é toda a esperança que existe. Ainda no elevador, tem um pressentimento: é hoje. Na rua, a Lua Cheia confirma: é hoje mesmo.
Começa a gincana. As amigas, os rapazes, aquela música, uma leve doideira, o carinha de azul, vai chegar nela, quase chega, não chegou. Uma dose. Começa de novo. vai ao banheiro, retoca a maquiagem, ouve um segredo, parte para pista, olha o de amarelo, passou.
Ela pensa em disistir. Será que chama um táxi? Não. Hoje é sábado e todo mundo sabe que sábado é dia de sim. Ela persiste. Mais uma dose, a doideira está doida, a amiga está triste, o carinha de azul está com a moça de saia preta, deixa ele, lá vem outro, não veio, dançou.
Já são quase 5 da manhã.
Não apareceu príncipe, nem herói, sequer um conquistador.
Ela não ouviu galanteios, ela não deu nenhum beijo, ela não teve surpresa.
Voltou para casa, jogou o vestido no chão do quarto, dormiu maquiada, não trouxe lembrança importante.
A noite não foi dela.
Deve ter alguma coisa meio estranha com a noite.

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