sexta-feira, 12 de março de 2010


BACIA HIDROGRÁFICA

"Eu tenho uma enorme facilidade pra chorar. Meus olhos são mais irrigados do que muita plantação de arroz. Eu choro por bobagem, por alegria, por emoção barata, por emoção cara e também por necessidade de escoar algo ruim que pressiona lá dentro.

Se eu fosse atriz, faria cenas belíssimas com minhas lágrimas inundando o Projac, o galã com colete salva-vidas pra não se afogar. Ia interromper pros comerciais, voltar a novela e eu ainda estaria chorando.

O problema é quando não consigo parar. Viro um Niagara Falls, os olhos se transformam em duas pias que transbordam, eu corro o risco de desidratar. O cérebro não entende a palavra "Cheeeega!', talvez não funcione com umidade.

Sabe as baianas lavando as escadarias da igreja de Nosso Senhor do Bonfim? Meu choro é parecido, só que sem as flores. É inchaço e alívio. Depois da choradeira, o corpo relaxa. Dá um cansaço do bem.

Com tanta seca no Nordeste, eu poderia reaproveitar essa água toda nem que fosse pra lavar a calçada – pensei em molhar as plantas ou embalar e revender, pena que o choro é salgado.

Tem gente que não consegue chorar. Sinceramente, não sei como."