segunda-feira, 13 de abril de 2009

DIVÃ


"Adoro massas cinzentas, detesto cor-de-rosa. Não me considero vítima de nada. Sou autoritária, teimosa, impulsiva e um verdadeiro desastre na cozinha. Peça para eu arrumar uma cama e estrague meu dia. Vida doméstica é para os gatos."

"Tenho um cérebro masculino, como lhe disse, mas isso não interfere na minha sexualidade, que é bem ortodoxa. Já o coração sempre foi gelatinoso, me deixa com as pernas frouxas diante de qualquer um que me convide para um chope. Faz eu dizer tudo ao contrário do que penso: Afino a voz, uso cinta-liga, faço strip-tease. Basta me segurar pela nuca e eu derreto, viro pão com manteiga, sirva-se."

"Eu gostava dele, mas passava longe de amor. Era só atração, se é que é possível dizer só atração, porque era uma atração gigantesca. Eu não concordava com a maioria das opiniões dele nem ele com as minhas, mas, ao nos tocarmos, anulávamos os significados das palavras, voltávamos para o tempo das cavernas, onde só havia grunhidos e beijos. Os beijos mais espetaculares da terra, beijos de sangrar gengivas, de esquecer onde se está. Eu estava no banco de um carro que não lembro a marca, mas era apertado. No colo de um motorista que não sei se possuía carteira de habilitação, mas que sabia atravessar um sinal como ninguém. O cara não pedia licença, ia entrando com lingua e dedos: o resto eu continha com o que sobrava de juízo. Sofria e gozava, sofria e adorava, sofria e queria mais. Nem risco de assalto, nem flagra do pai, nada nos detinha no escuro daquelas ruas que ficavam perto de casa. Minha franja grudava na testa, eu sempre perdia um brinco, não sentia mais meu sutiã. Ele repetia meu nome mil vezes, me chamava de gostosa, me lambia, mordia, deixava marcas que no dia seguinte eu teria que tapar com gola rulê, Deus permitisse que fizesse frio. Não foi meu primeiro namorado, mas foi o primeiro tarado."

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